Feirantes e frequentadores do Ver-o-Peso anseiam pela revitalização do espaço

Com a aprovação do projeto de reforma apresentado pela Prefeitura de Belém, os trabalhadores e os usuários não escondem a ansiedade pelas melhorias que a revitalização trará à feira do Ver-o-Peso.

Por Andreza (SESMA)  19/02/2016 15h36  15h36

Se existe um lugar que não dorme em Belém, esse lugar é o Ver-o-Peso. A feira, que é fonte de renda para muitas famílias, é procurada por todos os tipos de pessoas, principalmente para comprar peixes, frutas e hortaliças- antes mesmo do amanhecer - e ainda tem aqueles que fazem suas refeições todos os dias no local. Trabalhadores e frequentadores já estão ansiosos pela revitalização do espaço que atenderá as necessidades de todos os 791 permissionários, do setor de hortifruti ao de confecções, também contemplando a revitalização do Solar da Beira.

Há 40 anos trabalhando no Ver-o-Peso,o feirante Antonino Brito, de 65 anos, lembra que já viu muitas mudanças acontecerem desde quando iniciou como ajudante até conquistar sua própria barraca de venda de camarões - conhecida como barraca do Toninho. “Tínhamos que montar e desmontar as nossas barracas todos os dias, e com o passar do tempo as coisas foram evoluindo e ficando melhores.  Por isso eu tô bem ansioso para essa próxima reforma. O projeto está bonito e parece que vai melhorar muito para nós, feirantes. Assim, do jeito que estamos, sucateados e ultrapassados, não dá mais para ficar”, disse. 

Antonino faz parte do setor que aprovou de primeira a proposta de revitalização feita pela Prefeitura de Belém em parceria com o Governo do Pará, como explica Mariana Souza, arquiteta da empresa responsável pela elaboração do projeto arquitetônico. “Hoje os camarões são manipulados em cima de uma banca de madeira. E no projeto, o setor ganhará barracas de alvenaria revestida, o que possibilitará que, no final do dia, possa ser feita a limpeza completa’’. Ainda de acordo com a arquiteta, os feirantes do setor de camarão não fizeram nenhuma intervenção quando o projeto foi apresentado.

O projeto de revitalização do Ver-o-Peso prevê que todos os equipamentos da feira sejam readaptados de acordo com cada atividade e recebendo estruturas de alvenaria, balcão de granito, nova rede elétrica, abastecimento de água, identificação visual e adequação aos padrões definidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Essa reforma também agradará a costureira Fátima Gomes, de 47 anos, que faz questão de sair de sua casa, no bairro da Pratinha e fazer a sua feira no Ver-o-Peso, ainda na madrugada. “Sempre fui acostumada a comer as coisas bem fresquinhas, o peixe e as hortaliças principalmente. E do jeito que eu gosto só encontro aqui”, relatou. Enquanto Fátima fazia suas compras reclamou da situação em que o mercado se encontra, “este piso que é muito ruim, fica bem desconfortável andar por ele. Espero que melhore logo”, completou.

Uma das erveiras mais conhecidas do Ver-o-Peso, Beth Cheirosinha, conta que sua família já está na feira há quase cem anos e por isso luta pela perpetuação da cultura paraense concentrada no complexo. “Estou muito confiante neste projeto de revitalização. Nós estamos precisando”, ressaltou.

A nova cobertura do Ver-o-Peso, apresentada no projeto, garantirá o conforto que Cheirosinha tanto deseja. “Quando foi iniciado o projeto, a Prefeitura apresentou uma pesquisa que constava a reclamação dos feirantes. O mais citado foi o calor, que ocorre por conta da radiação na cobertura atual. Com isso, pensamos em uma cobertura que não pudesse apenas cobrir e proteger, mas ventilar e iluminar o local. Dessa forma, evitando ficar com luzes acessas durante o dia”, explicou o arquiteto José Freire, da empresa que elaborou o projeto arquitetônico.

Esse projeto de cobertura possui uma concepção mais moderna utilizada atualmente em grandes construções, por permitir o aproveitamento da luz natural e a circulação do vento, com uma estrutura tubular metálica leve e de fácil remoção, além de telhas termoacústicas, que isolam o calor e ruídos. A proposta também é sustentável, por permitir o reaproveitamento da água da chuva.

Na área das refeições, sempre tem aquele que toma o cafezinho no local. Como o vigilante Rubens Costa, de 34 anos, que faz questão de passar todas as manhãs pelo “veropa”, como a feira é carinhosamente chamada pelos frequentadores,“É bom saber que ele vai ser reformado, tem pessoas que não gostam de comer aqui porque tem uma imagem negativa da limpeza. Acredito que com um ambiente adequado às normas de higiene, ficará mais receptivo”.

É esse ambiente que a dona de casa Cilene Melo aguarda. “Não fico à vontade de comer aqui com essa cobertura que acumula sujeira, só comprei um mingau porque vi que estava tudo fechadinho. Sem dúvida quando for outra cobertura farei questão de almoçar aqui. Todos falam que a comida é uma delícia”, declarou.                                                                               

Revitalização necessária

Conhecida como uma das mais importantes feiras ao ar livre da América Latina e ícone da capital paraense, o Ver-o-Peso passou por algumas intervenções nos últimos anos. Conforme o Relatório de Identificação e Conhecimento do Bem, a primeira grande reforma foi realizada em 1968, a segunda em 1980 com a padronização das barracas, a ampliação e reordenamento da feira. Já a terceira grande reforma deu-se com a contratação, através de concurso público, de um projeto de reforma de toda a feira. Essa reforma foi iniciada em 1999 e concluída em 2004, após quatro etapas de construção.

Foi nesta última reforma que o mercado ganhou a nova cobertura branca.  No entanto, de acordo com o secretário municipal de Urbanismo, Adinaldo de Oliveira, “essas lonas têm duração - dada pelo fabricante - de seis anos, mas elas já estão há 17”, explicou.  

Em busca de melhorar o ambiente de trabalho dos feirantes e preservar o cartão postal da cidade, em abril de 2015, os 791 permissionários da feira do Ver-o-Peso foram convidados a participar de uma reunião, onde foi apresentado um pré-projeto de revitalização do espaço. Desde então foram realizadas reuniões setoriais para que fossem conhecidas com atenção as especificidades de cada grupo. A erveira Beth Cheirosinha conta que já escutou muitas contradições sobre essas reuniões. “Muitas pessoas estão falando que não aconteceram essas reuniões com os feirantes, mas tiveram, sim. Quem fala isso é uma meia dúzia de pessoas que não querem a reforma. Nós precisamos dessa mudança urgente”, afirmou.

Devido à ausência de parte dos feirantes na reunião em que seria apresentado o projeto final de reforma, uma audiência pública foi realizada no último dia 03, para apresentação do mesmo. Para que esse processo continuasse democrático e transparente, foi realizada uma consulta pública, na última quarta-feira, 16, para saber se a proposta de revitalização apresentada pela Prefeitura teria ou não a aprovação dos feirantes e usuários. Participaram da votação os permissionários, que tiveram urnas exclusivas, e somaram 213 votos a favor e 204 contra; assim como a sociedade civil também foi consultada, registrando o resultado de 433 votos favoráveis e 153 contrários.

Após a votação, a Secretaria Municipal de Urbanismo aguarda a finalização da análise e a aprovação do projeto de reforma pela superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Pará (Iphan, para realizar o processo licitatório e contratar a empresa que executará o projeto. Em seguida à contratação, o primeiro passo será montar o cronograma de obras e a estratégia de remanejamento dos feirantes, juntamente com os trabalhadores.

A intervenção aprovada pelos feirantes será realizada em uma área de mais de 10 mil metros quadrados, com investimentos na ordem de R$ de 34 milhões. Desse total, R$ 25 milhões são oriundos do Governo do Estado e R$ 9 milhões são verbas municipais.