Projeto do Parque Urbano São Joaquim já mobiliza comunidade local em busca de novas oportunidades

Projeto visa requalificação urbana, ambiental, paisagística e já vem alterando a rotina dos moradores..

Por Selma (ADMOS)  20/03/2024 14h17  14h17

A comunidade que mora em torno do futuro Parque Urbano São Joaquim, no bairro da Sacramenta, já se movimenta em busca de novas oportunidades de geração de renda. A obra surge como valorização da periferia de Belém no chamado combo do legado da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-30) que será realizada na capital paraense, em 2025.

O projeto também é uma nova realidade para quem mora ou trabalha ao longo dos 4,6km de extensão do São Joaquim. A área passa por transformação social, ambiental e econômica ao longo dos últimos dez anos, quando a macrodrenagem urbanizou o canal para acabar com a inundação das palafitas. A aposentada Maria do Livramento Soares, 87, é um das moradoras mais antigas da Passagem Grão Pará, bem próximo ao canal. Ela conta que, atualmente, o ambiente é outro. “Aqui é muito bom de morar, não tenho do que me queixar”, diz.

O Parque Urbano São Joaquim é um projeto da Prefeitura de Belém, que visa mudar a paisagem, a partir do projeto de requalificação urbana, ambiental, e tratamento paisagístico com sistema de esgotamento sanitário, drenagem pluvial e abastecimento de água. A obra será assinada por um escritório de arquitetura de Brasília, vencedor do concurso público realizado pela Prefeitura de Belém, em 2022. O convênio financeiro para execução do parque urbano São Joaquim já foi assinado com o Ministério das Cidades, em junho deste ano.

Visão de futuro - A nova perspectiva social da periferia de Belém tem levado os moradores a buscarem ocupação e geração de renda em segmentos econômicos diversos que vão desde a gastronomia com abertura de pequenos negócios; beleza e estética, oficinas de bicicletas, pequenas sucatarias de compra e venda dos chamados produtos recicláveis como plásticos, metais, alumínios e papeis e até o entretenimento com música e lazer. Alguns moradores estão investindo numa segunda carreira para realizar um sonho e dar à sua comunidade outras oportunidades.

O enfermeiro Wagner Bendelak, 49, morador da área há mais de 40 anos, está investindo cerca de R$ 20 mil na montagem de um novo negócio, que segundo ele, é um sonho particular, mas que só agora o cenário da área está favorável. “Eu queria muito ser músico, aprendi tocar instrumento e cantar sozinho, porém, ao longo dos anos não foi possível e agora, com essa nova realidade em nossa comunidade podemos acreditar que vai dar certo”, conta. 

A banda musical do enfermeiro anima os finais de semana da periferia da Sacramenta e ainda gera pequenos negócios ao seu lado. “Eu quero ver minha comunidade crescer e mostrar que a periferia de Belém tem programação e serviços de qualidade”, afirma. “Estamos aprimorando repertório eclético com música ao vivo e isso é uma mudança de comportamento, inclusive, porque as pessoas têm um olhar diferenciado em relação à periferia e nós estamos aqui pra mostrar o contrário”, completa Wagner Bendelak, que tem no reggae um gosto musical e filosofia de vida. “Nosso espaço também é colaborativo, todas as minhas vizinhas podem usar o ambiente da festa para comercializar seus produtos”, garantiu.

Tradição - A área do canal São Joaquim ainda mantém antigas ocupações como a de lavadeira de roupas. O exemplo dessa força feminina é dona Deuniza Ferreira, 60. Ela cresceu na área e recorda como era a situação da comunidade antes da urbanização do canal. “Aqui não tinha rua, eram as pontes que ligavam uma casa com a outra, hoje, tá tudo bonito”, elogia. Deuniza ainda desempenha a ocupação na lavagem de roupas. “Eu continuo, a clientela baixou um pouco porque a maioria das pessoas tem máquina, mas ainda tenho muitos amigos como os feirantes e peixeiros que trazem roupas pra eu lavar e ganho meu dinheirinho”, brinca.

Outros pequenos e bons negócios na área do canal e futuro parque São Joaquim são as sucatarias de material reciclável. Além de ajudar na limpeza da cidade, pode render um bom dinheiro para quem faz a coleta seletiva. Exemplo:  por um quilo de alumínio paga-se R$4,00; um quilo de ferro ou plástico custa R$0,50. Em pequenas dimensões esses valores parecem modestos, mas em números expressivos pode gerar renda para até quarenta pessoas.

Esse é o caso da Cooperativa de Catadores de Belém e Associação de Catadores de Belém, que funcionam às margens do canal, no bairro da Sacramenta, há mais de 12 anos.De acordo com números da administração do negócio, a produção dos recicláveis tem média de 80 a 120 toneladas mensais. A maior procura é por alumínio. A comercialização é imediata, segundo ele. Já o papel vem em segundo lugar com a produção atendendo as indústrias paraenses e paulistas.

Para Antônio Edson Meireles da Silva, 48, o negócio do material reciclável é uma alternativa de renda e eles aguardam por dias melhores. “Ainda não estamos com as finanças em alta, mas temos esperanças que a situação pode melhorar”, disse Davi Siqueira.

Limpeza – Na manhã de quarta-feira, 20, equipes da Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan) estavam atuando na limpeza, varrição e coleta de entulhos do canal. O local tem quase cinco quilômetros de extensão e é cercado por duas vias de trânsito. A Prefeitura de Belém já assinou o convênio para obras de requalificação urbana, em parceria com o Ministério das Cidades. “Será uma nova realidade para nossa comunidade e nossa ideia é crescer todo mundo junto”, aguarda Wagner Bendelack.